1.10.10

Uma Paulista Chamada Avenida

Ou é uma menina chamada Paulista? Isso, uma garota confusa, agitada, que brilha nas retinas dos paulistas, dos ecolá aos arigatô. Uma avenida tão dialética que, na hora do rush, as pessoas que vão a pé andam mais rápido do que as que vão de rodas. Homens, mulheres e minorias andam sobre seu ventre moreno, cospem em seus poros e excitam seu corpo exposto, faça chuva, faça sol. Na cabeça, a mentalidade dela: a Sears. Uma menina muito consumista, cheia de coisas, mas fraca de conteúdo. Nos pés, a decadência, o Ponto 4, mosquito e mosqueteiro. No centro, bem no centro, ali ó, a região pélvica. O Trianon plumoso, suas babás sensuais, velhos, bichas, meninos e meninas saindo do Dante, pipocas com cocotas, bobocas como eu, moços bons para dar uma bola, árvores tão densas que não dá pra jogar bola, cheirar cola, Coca-Cola, Kibon. Tá bom.
[...] Em cada cem habitantes paulistanos, 15 são viciados em fliperama. É a cidade da máquina, do digital, da tomada. Meninos e meninas, velhos impotentes, a Paulicéia delira apertando botõezinhos, fazendo a bolinha subir. E ela sobe, derruba um "extra" e sobe outra. Não deixa ela cair, ô cara, cuidado com o "tilt". [...] É a contradição do sistema, onde os felizardos serão os futuros infelizes desta mal-educada nação, pobre problema que não depende da magia da avenida. E é com má educação que o paulistano não respeita os black postes da menina. Todos forrados de cartazes: vende-se, show, luta, eu quero ser alguém. Mas essa sujeira eu até acho uma boa, e a menina também gosta. O mundo precisa de manifestos, de letras, de apresentações. Pô, ele nos dá tanto de graça e de inspiração, por que nóis vai ficá parado, hein? Beijos para o mundo, beijos para Porto Seguro, para Arembepe, para a avenida Niemeyer, para o Maracanã. [...] Dá-lhe menina, dá-lhe minha amante. Beijos na sua calçada deste cara que admira você.


Feliz Ano Velho ; Marcelo Rubens Paiva